Diante da grandeza
de Deus e da diversidade de pensamentos que existem para tentar explicá-lo, é
plausível dizer que a verdade é revelada pelo próprio Deus, o Espírito Santo,
que se manifesta onde quer (Jo 3,8 “O vento sopra onde quer...”).
Crer em algo por
causa da autoridade de Deus é diferente de acreditar por ter as condições de
certeza daquilo. A fé não acontece naturalmente sem motivo e, precisamente,
esse motivo é racional, caso contrário seria fideísmo. Para Santo Agostinho, a
razão natural é concedida por Deus aos homens para que conheçam a verdade.
Outro meio mais elevado é a Revelação, que se conhece a verdade pela fé, meio
que alcança o que a racionalidade unicamente não dá conta, ascendendo assim a
premissa de que fé e razão caminham juntas. Santo Agostinho conclui que é
necessário “crer para compreender, compreender para crer”, haja vista que, em
sua experiência pessoal, o fato dele crer o fez ver mais verdades e com muito
mais clareza, as quais ele não enxergava antes – uma conversão muito mais
intelectual do que moral.
As Sagradas
Escrituras nos ensinam (Hb 11,1) “que a fé é o fundamento da esperança, é uma
certeza a respeito do que não se vê”. Nos ensinam também que (Hb 11,3) “pela fé
reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas
visíveis se originaram do invisível”. Nas palavras de Santo Agostinho: “Ter fé
é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser. Ter
fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo
em que você acredita”.
O cristianismo vem
depois da filosofia, provocando uma continuidade mais do que uma escolha.
Somente unindo fé e razão, filosofia e cristianismo, é possível fazer teologia.
O reconhecimento do papel da razão filosófica tanto nos prepara para o ato de
fé como no conhecimento das verdades reveladas. Portanto ciência e religião se
complementam, e juntas podem trazer uma grande contribuição para construção do
pensamento epistemológico.
O ser humano anseia
por um sentido de vida, e não são poucos que anseiam por respostas. Uma
pergunta frequentemente feita por religiosos ou não crentes é: se Deus é bom,
por que existe o mal?
Santo Agostinho
mostra que o problema ou a origem do mal não está em Deus que, segundo ele, é
bom e justo, mas no homem com seu livre arbítrio e suas escolhas. É comum
pensar que o livre arbítrio é um tipo de liberdade concedida para que se
escolha entre o bem e o mal, mas no pensamento agostiniano o livre arbítrio não
é concedido para que se escolha o mal, mas sim uma condição para escolher o
bem. Aqueles que escolhem o mal, usam errado a liberdade recebida e serão mais
infelizes. Aqueles que escolherem o bem, terão usado corretamente a liberdade
recebida e serão felizes. Agostinho ainda explica que a função do livre
arbítrio é garantir que nenhuma criatura racional seja obrigada a amar a Deus.
Não existe amor sem liberdade e, por isso, se o livre arbítrio for mal
utilizado, afasta-se do amor.
Encaro o
ensinamento de Agostinho acerca do livre arbítrio como um dos mais oportunos,
pois, no meu ponto de vista, esse é um dos temas de maior complexidade de
entendimento, tendo em vista a quantidade de males que essa liberdade confere à
humanidade e ao próprio Deus. Quantas blasfêmias e ofensas dirigidas ao Sagrado
Coração de Jesus! Quantas mortes, mentiras, corrupção, estupros e injustiças
dirigidas às pessoas de bem! Se a vontade de Deus é a nossa santificação (1 Ts
4,3), como é possível que tenhamos a capacidade de escolher a nossa condenação?
Se Deus nos quer santos, por que ele permitiu que a concupiscência (Tg 1,15)
fizesse parte da natureza humana? Como é possível que Deus permita o mal?
Considero a
seguinte afirmativa de Santo Agostinho a mais reconfortante: “O Deus
Todo-Poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir
nas suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem
do próprio mal”. Deus é o único que tem a visão do todo: o concreto e o
abstrato; o mundo físico e o metafísico. E diante da limitação humana, quando
falta argumentos para a razão, a fé fala mais alto, pois a fé nos dá a conhecer
aquilo que os olhos não podem ver, e "é por isso que não desfalecemos.
Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior
renova-se de dia para dia. A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira,
nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável." (2 Cor 4,
17-18).
Não é uma filosofia
de fácil aceitação para quem não tem uma fé madura. Mesmo diante da realidade
de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16),
acreditar no amor de Deus é sempre um ato de fé. E cientes de que no âmbito
espiritual o inimigo estará sempre aplicando suas investidas para nos afastar
da verdade, pois o demônio é o pai da mentira (Jo 8,44); cientes de que o
objetivo do maligno é o de nos separar do amor de Cristo e que vivamos no
pecado, é importante recordar o que a primeira carta de São Pedro, capítulo 5,
versículos 8 e 9, nos recomenda: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o
demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar,
Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que os vossos irmãos, que estão espalhados
pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós.” (1 Pedro 5, 8-9).
Uma fé madura se
constrói com uma vida de oração ativa; construindo dia após dia uma maior
intimidade com Deus. Santo Agostinho também nos alerta quanto a nossa
necessidade de não estagnarmos em nossa vida de oração: “na caminhada para Deus
quem não avança, sempre retrocede arrastado pela correnteza de nossa natureza
corrompida”. Portanto sigamos perseverantes, com a unção do Espírito Santo.